segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O que podemos aprender com o estoicismo em tempos de pandemia?

O filósofo estoico, Epiteto, acreditava que há coisas que dependem de nós, das quais somos agentes (o impulso, o desejo, as opiniões), e coisas que não dependem de nós, das quais não somos agentes (o corpo, a reputação, a riqueza). Para Epiteto, se quisermos alcançar a felicidade, precisamos aprender a distinguir essas coisas. Uma vez identificadas, precisamos aprender a não querer mudar aquilo que está fora do nosso alcance nem ficar nos lamentando por aquilo que nos acontece. É preciso aprender a transformar aquilo que acontece em nossas vidas em uma produção própria. Ao recomendar nos conformar ao acontecimento, os estoicos não estão dizendo que não podemos fazer nada. Ao contrário, é essa conformação, esse saber moldar-se ao acontecimento que nos permite ser atores e sujeitos de nossas próprias vidas. 

No livro A arte de viver, de Epiteto, encontramos as seguintes passagens:

Saiba distinguir entre o que você pode controlar e o que não pode

A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle e outras não. Só depois de aceitar essa regra fundamental e aprender a distinguir entre o que podemos e o que não podemos controlar é que a tranquilidade interior e a eficácia exterior tornam-se possíveis.

Sob nosso controle estão as nossas opiniões, aspirações, nossos desejos e as coisas que nos causam repulsa ou nos desagradam. Essas áreas são justificadamente da nossa conta porque estão sujeitas à nossa influência direta. Temos sempre a possibilidade de escolha quando se trata do conteúdo e da natureza de nossa vida interior.

Fora de nosso controle, entretanto, estão coisas como o tipo de corpo que temos, se nascemos ricos ou se tiramos a sorte grande e enriquecemos de repente, a maneira como somos vistos pelos outros ou qual é a nossa posição na sociedade. Devemos lembrar que essas coisas são externas e, portanto, não dependem de nós. Tentar controlar ou mudar o que não podemos só resulta em aflição e angústia.

Lembre-se: as coisas sob nosso poder estão naturalmente à nossa disposição, livres de qualquer restrição ou impedimento. As que não estão, porém, são frágeis, sujeitas a dependência ou determinadas pelos caprichos ou ações dos outros. Lembre-se também do seguinte: se você achar que tem domínio total sobre coisas que estão naturalmente fora de seu controle, ou se tentar assumir as questões de outros como se fossem suas, sua busca será distorcida e você se tornará uma pessoa frustrada, ansiosa e com tendência a criticar os outros.

Não faça caso do que não é da sua conta

O progresso espiritual exige que ressaltemos o que é essencial e deixemos de lado todas as outras coisas como ocupações banais que não merecem nossa atenção. Além disso, é até bom ser considerado tolo ou ingênuo com relação àquilo que não nos compete. Não se preocupe com a opinião das outras pessoas a seu respeito. Elas estão fascinadas e iludidas pelas aparências. Mantenha-se firme em seu propósito. Só isso poderá fortalecer a sua vontade e dar coerência à sua vida.

Evite tentar conquistar a aprovação e a admiração dos outros. Lembre-se de que você está em busca de um caminho mais elevado. Não deseje que eles o vejam como uma pessoa sofisticada, incomparável ou sábia. Na realidade, desconfie se for visto pelos outros como alguém especial. Fique alerta para não adquirir um falso sentimento de autoimportância.

Manter sua vontade em harmonia com a verdade e preocupar-se com o que está além de seu controle são princípios mutuamente exclusivos. Enquanto estiver absorvido por um deles, você irá obrigatoriamente negligenciar o outro.

 EPICTETO, A arte de viver: o manual clássico da Virtude, Felicidade e Sabedoria, trad. Maria Luiza Newlands da Silveira, Rio de Janeiro:Sextante, 2018.

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