sexta-feira, 16 de abril de 2021

Olympe de Gouges(1748-1793) - Rosa Montero - Nós, mulheres: grandes vidas femininas

 É curioso o papel da viuvez na vida das mulheres; foi, com frequência, a única via para conquistar a independência, e muitas enviuvaram abominando a institução do matrimônio. Foi o que aconteceu com Olympe, filha de um açougueiro de Montauban, na França. Seu esposo, muito mais velho que ela, morreu cedo, deixando-a com um filho e sem a menor vontade de se casar novamente. Olympe foi para Paris e viveu como escritora e dramaturga. Foi muito ativa na causa antiescravagista; escreveu duas obras de teatro e um ensaio político sobre o tema. O primeiro dos dois dramas, Le Esclavage des noirs [A escravidão dos negros], não só foi proibido como como também encarceraram brevemente a autora na Bastilha; após a Revolução, o drama foi por fim representado na Comédie-Française. Olympe era, naturalmente, revolucionária; em 1791 publicou sua famosa Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, porque, como outras pessoas (entre elas, o filósofo Condoercet), acreditou que quando se falava em direitos do homem também estavam incluídos os da mulher. Equivocaram-se. Preocupada com os abusos de poder de Robespierre e de Marat, essa mulher honesta e corajosa criticou-os duramente. Foi detida em agosto de 1793. Da prisão pediu várias vezes, para ter chance de defesa, que fosse julgada pelos tribunais ordinários, em vez de ser enviada para o terrível tribunal revolucionário. Numa tentativa desesperada de se salvar, escreveu clandestinamente dois panfletos, Olympe de Gouges no tribunal revolucionário e Uma patriota perseguida, que conseguiu mandar para fora da prisão. Ambos os textos circularam em Paris e foram muito lidos, mas de nada adiantaram: em 2 de novembro de 1793 ela foi conduzida sem advogado para a pantomina do tribunal revolucionário. Foi para guilhotina do dis seguinte. Seu único filho renego-a publicamente após sua morte, talvez por medo de ser preso. 

MONTERO, Rosa, Nós, mulheres: grandes vidas femininas, tradução Josely Vianna Baptista, São Paulo: Todavia, 2020.

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